Fóssil de formiga mais antiga do mundo foi encontrada na região do Cariri, no Ceará — Foto: Anderson Lepeco
Fóssil de formiga mais antiga do mundo é encontrado na Bacia do Araripe, no Ceará
Um fóssil encontrado na Chapada do Araripe, na região do Cariri cearense, guarda os restos da formiga mais antiga do mundo. Descrita em estudo recente de pesquisadores da Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, a nova espécie de formiga-do-inferno, como é chamada, tem idade estimada de 113 milhões de anos, sendo o registro mais antigo de formigas na ciência atual.
A espécie se chama Vulcanidris cratensis e foi preservada em rocha encontrada na Formação Crato. A unidade geológica fica na Bacia do Araripe e está situada perto dos municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri e Crato, no sul do Ceará.
O fóssil com a formiga-do-inferno integra o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) há cerca de cinco anos. O estudo que dá detalhes sobre a espécie foi publicado na revista Current Biology, no dia 24 de abril. O entomologista Anderson Lepeco, vinculado ao museu, é um dos autores do artigo.
Por que ela é a mais antiga?
As formigas modernas são descritas no estudo como um dos grupos de insetos mais abundantes no planeta, sendo encontradas em todos os continentes, com exceção da Antártica. A descoberta permite conhecer mais sobre os ancestrais destas espécies.
A Vulcanidris cratensis foi um membro já extinto da subfamília Haidomyrmecinae. Conhecidas como formigas-do-inferno, estas formigas viveram exclusivamente no período do Cretáceo, que compreende os acontecimentos no planeta entre 65 a 145 milhões de anos.
A nova espécie descrita é cerca de 13 milhões de anos mais velha que as formigas mais antigas conhecidas anteriormente, que haviam sido encontradas em fósseis preservados em âmbar, na França e no Mianmar.
A pesquisa conseguiu encontrar semelhanças da nova espécie com as formigas-do-inferno descobertas no Mianmar. Esse achado no Brasil mostra que as formigas eram amplamente distribuídas há centenas de milhões de anos, aponta o estudo.
A Formação Crato, onde a espécie foi encontrada, é conhecida por preservar fósseis datados no Cretáceo Inferior. Neste período geológico, os continentes começaram a se separar, desfazendo lentamente o grande bloco único de terra chamado Pangeia.
Quais são as características?
Os pesquisadores conseguiram identificar que o fóssil preservado no Crato era de uma fêmea. O exemplar tinha cerca de 1,35 centímetros.
Ela apresenta uma característica importante das formigas-do-inferno: as mandíbulas em forma de foice. É provável que essas mandíbulas, em formato considerado bizarro, fossem usadas para atacar as presas.
Com uma anatomia especializada, a formiga mais velha do mundo abre perguntas científicas sobre a velocidade da adaptação destes insetos no passado e as condições que teriam pressionado a espécie a passar por evoluções.
De onde vem o nome?
O nome escolhido para a formiga traz duas referências ao Brasil. Uma delas é o gênero: Vulcanidris faz homenagem à família de Maria Aparecida Vulcano, que doou uma coleção privada com fósseis para o Museu de Zoologia da USP.
O epíteto da espécie, cratensis, faz referência à Formação Crato, onde o fóssil foi encontrado.
Riqueza paleontológica no Ceará
O fóssil foi analisado por meio de tomografia computadorizada, uma técnica que permite observar o interior dos objetos.
A abundância de organismos bem preservados nas rochas da Bacia do Araripe chama atenção de pesquisadores. Na década de 1990, um dos dinossauros brasileiros mais famosos a nível mundial foi encontrado em escavações na região: o Santanaraptor placidus.
A região já permitiu encontrar mais de 600 espécies de insetos. Fósseis dos grupos de plantas com flores, que hoje dominam o ambiente terrestre, também são achados no Cariri com estruturas completas de raiz, caule e frutos.
A qualidade dessa preservação impressiona os pesquisadores. Na Formação Crato, por exemplo, havia um lago onde os organismos caíam e depois eram soterrados. Com isso, muitos deles não foram expostos à decomposição feita por bactérias e fungos.
Atualmente, a região conta com 11 geossítios que compõem o Geopark Araripe. A chancela de geoparque é concedida pela Unesco às áreas que apresentam pelo menos um geossítio de valor internacional para a ciência, a educação e o turismo.
(G1 Ceará, por Thaís Brito)